terça-feira, maio 09, 2006

Crônicas Cine-Afetivas - Episódio IV

Olá!
Tudo bem? Espero que sim!!

Bem, para variar, andei superhipermega ocupado, mas não deixo esse blog ficar em branco, evidentemente. Por favor, continuem aparecendo!

Eu ando fraco nos filmes, estou fazendo um tipo de jejum esperando pelo "Código Da Vinci", dia 19 desse mês.

Isso me abre espaço para a terceira parte das Crônicas Cine Afetivas, escritas esse mês pelo grande blogueiro Marco Santos, do blog Antigas Ternuras. Apreciem!


***

Crônica Cine-Afetiva
Episódio IV


“Eu me recordo...”
por Marco Santos


Quem me dá a honra de visitar o meu blog Antigas Ternuras já percebeu o quanto prezo velhas reminiscências, descrevendo-as sem travos de amargura, sem discutir se “os bons tempos” eram melhores ou piores que atualmente. Simplesmente recordo. E asseguro que cada um de nós pode ter suas antigas ternuras, independente da época em que tenha vivido. A emoção de quem relembra será sempre igual e a gente certamente encontra similitudes na lembrança de outro com a nossa.
E como que para provar o que eu digo, o grande Fellini levou às telas do mundo sua obra-prima (na minha opinião). O belíssimo “Amarcord”, que em dialeto da região de sua Rimini natal significa “Eu me recordo”.

Eu já assisti a este filme seguramente umas doze vezes.

Sobre ele, tenho história curiosa. A minha mãe foi vê-lo antes de mim. Quando ela chegou em casa, disse: “Tem um personagem com o jeito que eu acho que você tinha no colégio”. Ela não me disse qual era o personagem. E o mais interessante é que minha mãe não sabe do meu “jeito” no colégio. Só uma vez ela teve que ir até lá para tomar conhecimento de alguma que eu tinha aprontado. Nas outras 99.999 vezes, ela nem desconfiou.
Pois bem. Eu fui assistir ao “Amarcord”. Quando voltei para casa disse para a minha mãe: “É o que fez xixi no pé do colega, não é?”. Ela concordou. E estava certa.

Arisco em dizer que se eu tivesse visto “Amarcord” no meu tempo de colégio eu imitaria todas aquelas traquinagens. A tal cena é a seguinte: numa aula de Matemática, com uma professora mais braba que siri amarrado, um aluno é intimado a ir ao quadro para resolver um problema. O moleque está se borrando de medo. Enquanto isso, um outro aluno com cara de sonso pega um monte de canudos de mapas e vai ligando um no outro, passando por baixo das carteiras, formando um longo duto, chegando aos pés do aluno tremelicante, que estava penando junto ao quadro para resolver o problema. Por aquele duto de mapas o outro faz um xixizaço, cuja poça se deposita em torno do pobre coitado. Nem ele nem a professora percebem. Acabado o xixi, o sonso recolhe os canos e faz a maior cara de inocente do mundo (exatamente como a que eu fazia). A professora percebe a poça de xixi no pé do aluno no quadro, e faz um escândalo para a surpresa da inocente criatura.

O filme se passa pelo ponto de vista de um adolescente, cuja família é a coisa mais engraçada do mundo. O tio – irmão do pai - é maluco de juntar cachorro em volta. Vive num hospício e quando sai com a família dá vexame. O avô vive assediando a empregada da casa. Ele diz uma frase no filme que um tio meu costumava falar: “Quando se almoça depois do meio-dia a comida vira veneno no estômago!” Os pais vivem discutindo da forma mais italiana possível. E o principal tema das discussões é o irmão da sua mãe, um bon vivant que vive encostado no cunhado. O tal adolescente, que a gente percebe ser o próprio Fellini, e que representa o arquétipo de todo adolescente, seja lá de que época, tem uma paixão por uma mulher mais velha e é nela que ele pensa nas sessões de masturbação coletiva com seus amigos.

O filme tem imagens belíssimas, todas ressaltadas pela magnífica trilha sonora de Nino Rota. A cena dos adolescentes na varanda vazia do luxuoso hotel da cidade, dançando ao som de uma música imaginária, com os primeiros flocos de neve caindo, é uma das coisas mais lindas que eu já vi em cinema.

Amarcord...Eu me recordo...Nunca um filme sobre uma outra realidade, sobre uma época que não era a minha me bateu tão forte. Nossas recordações são tatuagens na nossa alma. A gente pensa que estão guardadas numa velha cristaleira, fora do alcance dos outros. Mas um artista especial como Fellini, consegue fazer a mágica de abrir o velho móvel e nos mostrar, com mãos de prestidigitador, um velho bibelô empoeirado que já nem lembrávamos que existia.
***
Pessoal, me desculpem por não estar aqui sempre, mas a partir da semana que vem tenho um mês inteiro livre para postar!
Um abraço, até!
O Editor, ouvindo Slippin' and Slidin [Unreleased Take], de John Lennon.

12 Comments:

Blogger Bruno Capelas said...

Agora o Marco me deixou com vontade de ver Amarcord... :D

Um abraço!

maio 09, 2006 5:23 PM  
Anonymous Anônimo said...

Oi Luiz, td bem? Mto bom esse texto, o filme não vi. Abraços.

maio 09, 2006 9:42 PM  
Anonymous Anônimo said...

Olá, Luiz!

Cara, ainda nõ vi esse filme, mas vou procurar na locadora...gosto desse tipo de filmes...tenho a impressão de ele ter passado no cinemax, e como voce falou de adolescentes, pode ter sido ele, mas não vi...as vezes fico com o controle só mudando canal.

Um abraço e boa noite

maio 10, 2006 6:39 PM  
Blogger Gustavo H.R. said...

Excelente, Luiz! Pena que não posso partilhar opiniões, já que não tive a oportunidade de ver um filme do con(sagrado) mestre italiano por inteiro...


Cumps.

maio 11, 2006 11:46 AM  
Blogger Marco said...

Grande Luiz!
Obrigado por ter postado o meu texto sobre o Amarcord. Pelo visto, os seus habituais leitores não viram esse filme, que é uma de minhas mais queridas e antigas ternuras. Recomendo a todos (inclusive a você, se ainda não o viu).
Essa sua idéia de abrir espaço para outros postarem suas cineafetividades é fantástica. Agora que conhecem a minha (Amarcord), gostaria de conhecer a de outros.
Um forte abraço e tenha um ótimo final de semana.

maio 13, 2006 7:23 AM  
Anonymous Anônimo said...

Olá, Luiz!

Bom fim de semana e um grande abraço

maio 13, 2006 3:08 PM  
Blogger Claudinha ੴ said...

Olá Luiz Henrique, vim visitá-lo atendendo ao convite de Marco. Excelente esta idéia de dar aos seus amigos a vez para postar sobre cinema. Eu gosto muito deste filme, mas nunca o tinha visto pela ótica do meu querido amigo, e eu gosto disto, desta troca de impressões. Sempre aprendemos muito quando enxergamos pelos olhos dos outros também. Um grande abraço e ótima semana!

maio 14, 2006 9:53 AM  
Blogger Paulo Assumpção said...

Marco, sua ternura pelo filme-recordação do mestre Fellini faz a obra parecer ainda mais poética do que já é. Excelente texto!

Luiz, ótima idéia a de abrir espaço por aqui para que os colegas blogueiros possam compartilhar nossa paixão em comum: o cinema. Aguardo seu retorno!

maio 14, 2006 8:18 PM  
Anonymous Anônimo said...

Boa noite!!


um abraço

maio 17, 2006 6:40 PM  
Anonymous Anônimo said...

1º vez que entro aqui, e peço perdão, mas não comentarei sobre o texto (to numa aula e não posso ler ahaha)...
Achei seu blog enquanto procurava informações sobre o maravilhoso Tim Burton...
Vou salvar o link agora pra depois voltar e descobrir o que você achou de O Código da Vinci!!

Bjks!

maio 19, 2006 11:55 AM  
Anonymous Anônimo said...

Olá, Luiz!!!

Bom domingo!!

Um abração

maio 21, 2006 6:38 AM  
Blogger Dilberto L. Rosa said...

Um pouco atrasado, mas ainda antes da nota 100 de Código da Vinci, eis-me aqui a parabenizar este belíssimo texto do primo Marco, que conseguiu sintetizar esta obra-prima que colocaria como o meu terceiro maior filme de todos os tempos (os dois outros seriam 8 1/2, também do fellini, e Cidadão Kane, de welles): puro sonho, cheio de cenas inesquecíveis, de humor (ainda que outonal) e de drama de família... Minhas cenas favoritas são a do pavão e a do "quase sumiço" do velho avô na neblina, em frente à própria casa: pura poesia!!! Grande abraço a estes dois amigos loucos por cinema, Luiz e Marco! Até!

maio 21, 2006 8:30 PM  

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