21h40m. São dez minutos de atraso até que as luzes se apagassem, e finalmente a imensa tela branca em minha frente se enchesse de cores e luzes e imagens. Eu estava ali assumidamente sem vontade, é necessário que eu confesse. Estava naquela sala, naquele domingo, somente por causa do meu sobrinho mais velho, que quase me arrastou pelo braço para ver o filme. Pois bem. Os trailers passaram, o filme estava começando. Me ajeitei na confortável poltrona vermelha do Cine Itapetininga – I, onde eu estava. Warner Bros., Legendary, DC Comics. De repente, a voz inconfundível daquele que talvez tenha sido um dos maiores ícones do cinema. Marlon Brando discorre seu monólogo sobre a importância que o filho de seu personagem terá na humanidade. Uma explosão, um arrepio me sobe a espinha. Ao fundo, uma trilha sonora que eu reconhecia de muitos anos atrás. Da minha infância. Uma trilha que vai crescendo à medida que os créditos aparecem durante uma viagem astronômica que a câmera faz. Crescendo, crescendo, crescendo. Eu reconhecia aquele toque que se fazia ouvir cada vez mais. Até que um logo aparece na tela, a famosíssima trilha do mito John Williams atinge seu ápice. O símbolo do herói, imenso, em minha frente. Foi uma das pouquíssimas vezes em que eu tive consciência, dentro de uma sala de cinema, que eu estava presenciando um momento histórico. E foi uma das raras vezes em que eu me emocionei sinceramente numa sessão. Foi assim que vi, pela primeira vez, Superman Returns.
Essa retomada da série do Homem de Aço causou alvoroço no meio cinematográfico, principalmente depois da noticia que Bryan Singer, diretor meticuloso da franquia dos mutantes X-Men, havia “pulado a cerca” e topado dirigir o quinto filme do Superman. Muita gente não botou fé, depois da escalação de Brandon Routh para o papel principal. Quem poderia substituir o carismático Christopher Reeve? Quando anuciaram o nome desconhecido de Routh, poucos ainda acreditavam no sucesso, mesmo tendo no elenco ainda nomes estelares como Kevin Spacey, Eva Marie-Saint, Frank Langella, entre outros. Foi o filme mais aguardado deste ano, acompanhado da terceira parte do X-Men e do Código Da Vinci. E, para minha surpresa, este é o melhor dos três citados.
Depois de um sumiço de cinco anos, Clark Kent (ou melhor, Superman) volta para a Terra, esperando reencontrar a mesma vida que tinha antes de partir. Mas, ao retornar, encontra tudo muito diferente: as pessoas se acostumaram a viver sem a ajuda dele; e o principal: Louis Lane, seu grande amor, está casada, tem um filho, e ganhou um Prêmio Pulitzer por um artigo intitulado “Por que Nós Não Precisamos do Superman”. Mas, ao mesmo tempo em que se confrontava com seus problemas pessoais, Lex Luthor planeja mais uma vez tentar enriquecer e se apoderar do mundo, bolando um engenhoso plano para acabar com a Terra no planeta, obrigando todos a comprar as terras que ele está criando com a ajuda de um misterioso cristal tirado da Fortaleza da Solidão, antigo esconderijo do herói. Agora, Superman tem que voltar a ação para impedir os planos de Luthor, ao mesmo tempo que tenta se adaptar a nova realidade, reconquistar o grande amor de sua vida e deparando-se com vários contratempos e algumas grandes surpresas no seu caminho.
A direção de Singer é extremamente fiel ao filme original, dirigido por Richard Donner (que dirigiu recentemente o filme “16 Quadras”, com Bruce Willis). Mas, depois do êxtase da abertura do filme, me deparo com erros crassos no roteiro, que tenta ser fiel ao máximo ao primeiro filme, mas ignorando o resto da cinessérie; o que causa problemas àqueles que viram todos os filmes. Dá um certo desconforto. Mas indiscutivelmente, as cenas com efeitos visuais são belíssimas, competentes e completamente admiráveis. Uma das proezas iniciais do herói depois de seu retorno, num avião, é de tirar o fôlego.
É uma pena que Spacey e Marie-Saint sejam tão pouco utilizados. Eu ainda acho que o ator de “Beleza Americana” e “Os Suspeitos” tinha tudo pra ser um Lex Luthor perfeito, julgava-o perfeito para o papel. Mas, devido as poucas cenas em que aparece, essa expectativa caiu por terra. E a outra, veterana atriz premiada com o Oscar, aparece em três cenas. Só. Logo, não há o que se comentar.
Talvez o excesso de zelo tenha prejudicado um pouco o filme. Os atores principais não convencem. Bom mesmo é rever Marlon Brando, com falas cortadas de sua participação no primeiro filme da cinessérie repostas aqui. Mostra, sem sua presença física mas com o poder de sua dicção, porque foi um dos maiores de Hollywood. Arriscaria dizer que ele é o melhor ator do filme.
Por fim, me resta dizer que apesar do começo apoteótico, o filme me decepcionou em vários pontos. Mas, é infinitamente melhor que as partes III e IV da série. Só acho que poderia ter sido um pouco mais coerente. Mas, aconselho verem o filme e tirarem suas próprias conclusões. É um daqueles filmes em que cada um tem a sua visão específica sobre a história. Meu sobrinho adorou. Eu, nem tanto.
Uma nota?
8,9/10
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Tchau!
O sobrinho do Editor, ouvindo As Minas do Rei Salomão, do Raul Seixas.
PS: A comunidade que eu fiz pro meu tio, no orkut! Se quiserem entrar, o link é esse aqui, ó: