Crônicas Cine-Afetivas - Episódio II
Olá a todos!
Tudo bem com vocês? Espero que sim!
Bem, estou postando na sexta porque achei uma vaga na minha agenda (como se eu fosse muito importante para ter uma agenda...), na verdade, resolvi não ir à escola hoje, portanto fiquei com uma folga boa para poder escrever bem, tanto aqui no blog, quanto nos outros textos que tenho que entregar neste fim de semana. E outra: amanhã não daria tempo, porque terei um bocado de trabalho lá na PLAYBACK PRODUÇÕES (para quem não sabe, esse é o nome da minha nanomicropequena empresa de audiovisual), tenho que aprontar uns DVD-teste para enviar para São Paulo. E isso me manterá ocupado provavelmente nos dois dias desse weekend.
E essa semana resolvi inovar, experimentar algo novo. Na verdade, não é tão novo assim, porque no UP 1.0 (http://underpressure.zip.net), eu já havia testado com sucesso essa mesma fórmula, só que com outro nome e outra pessoa escrevendo. O nome da sessão era "Outras Memórias", e quem havia inaugurado com seu texto era o meu querido amigo blogueiro Dilberto Lima Rosa, do blog Morcegos - o texto era sobre suas memórias dos filmes de Stanley Kubrick. Resolvi que, a cada dia 25, um texto aparecerá aqui, tanto meu quanto de um convidado. Só vou mudar o nome da coluna - agora ela se chama "Crônicas Cine - Afetivas", porque é uma crônica que tem como tema algum filme, cineasta, ator ou qualquer coisa ligada a cinema que traga uma boa (ou má) lembrança a quem escreve; e por sua vez não chega a ser uma resenha, por se tratar de um texto bem pessoal.
Vou reinaugurar essa coluna hoje. E quem quiser deixar a sua, deixe e-mail para l_henrique_@hotmail.com; ok?
Mas antes, uma coisa: fui indicado pelo meu outro amigo querido dos blog, o Marfil, do blog Spoiler, para uma vaga na prestigiosa Liga dos Blogues Cinematográficos. onde só se entra através de uma indicação; e ainda tem que passar por votação dos membros para poder ingressar. Fiquei feliz com essa do Marfil (obrigado!), mas precisaria ter a minha candidatura aprovada, e para minha alegria, ela foi.

Bem, vamos ao texto...
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CRÔNICAS
CINE-AFETIVAS
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episódio II
"...imprima-se a lenda."
por Luiz Henrique Oliveira
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Eu acho que a maioria sabe o quanto o cinema pode deixar marcas profundas na mente e no coração. O ser humano tem dessas coisas - qualquer coisa que veja que o deixe emocionado, irritado, alegre, sempre acaba deixando uma marca, e quando ela vem a tona por qualquer motivo, sempre acaba gerando algum tipo de emoção. E isso acontece também com alguma frase de efeito, que a gente escuta durante um filme e fica marcada. E depois, constatamos que essa frase se aplica não só na ficção, como na vida real. Isso acontece. Comigo já aconteceu.
A primeira vez que eu assisti "O Homem Que Matou o Fascínora", aquele filme que tem o John Wayne naquele que eu particularmente julgo ser uma de suas melhores interpretações, eu deveria ter o que, uns nove, dez anos. Era mais obcecado por cinema do que hoje em dia, porque atualmente eu sei distinguir um filme bom do ruim (nem sempre, mas...). Naquela época, eu via qualquer filme que me passassem, e adorava todos, somente pelo fato de serem um filme. Bastava ser filme e eu tava devorando. Eis que um dia tava na locadora, e vi a capa desse filme. Pensei " -Ah, porque não?". Peguei o VHS (ainda era videocassete - parece tão distante...), levei e botei no meu aparelho. E, oh, que choque que eu tomei.
Sabe que filme é esse?
O filme é aquele que um advogado boa-pinta, interpretado pelo James Stewart, que quer livrar a sua cidadezinha no Velho Oeste do maior encrenqueiro do lugar: Liberty Valance, esse interpretado pelo magistral John Wayne. Esse é um tremendo mau-caráter, um vilão mesmo. E para piorar a situação, eles disputam a mesma mulher, que foi caracterizada na tela pela Vera Miles. E o filme conta como é que acabou esse duelo de gigantes, em que somente um poderia sair vivo. O filme é excelente, muito bom mesmo, mas... o que me marcou foi aquela frase.
Aquela frase final, "When the legend becomes fact, print the legend" , foi impactante, podem crer. Eu era um menino ainda, e praticamente tomei essa frase como lema da minha vida. "Quando a lenda se torna fato, imprima-se a lenda"... achei naquele momento que eu queria ser somente duas coisas na vida: ou me tornaria roteirista, para poder escrever frases maneiras como aquela, ou me tornaria Liberty Valance. Claro que, como tudo na minha vida, nenhuma das duas coisas eu consegui ser.
O tempo passou, e esses dias atrás, vendo a sessão de DVD's de uma famosa loja, dei de cara com os rostos de Stewart e Wayne, com aquele título. " -Puts..." - pensei - "...preciso comprar esse!" Dito e feito. Peguei aquele DVD como se fosse o único exemplar da face da Terra e saí agarrado com ele até o caixa. Paguei, e o trouxe para casa. Ansioso para ver aquela frase novamente.
Coloquei o filme, assisti ele todinho. Mas sabe... passei a olhar mais o filme, e não a frase em específico. Passei a perceber que, realmente, John Wayne era um cara de talento imenso. Percebi também que Stewart devia ser um ator e tanto também. Notei também uma coisa que estava sempre diante do meu nariz, mas nunca tinha visto: o diretor do filme, John Ford - o ícone dos filmes faroestes - está na mesma altura que Capra, Chaplin, Spielberg, Kubrick, Scorsese: ou seja, no hall dos geniais. E a frase ainda beliscava a minha cabeça.
Mas sei que depois de terminado o filme, liguei a TV, coisa que nunca faço, já que raramente assisto a canais de televisão (a não ser jornais e filmes, e olhe lá). Tava aparecendo a notícia de que um jornalista havia plantado informações a mando da oposição de um certo governo para poder manchar a imagem do presidente do país. Enquanto esse jornalista tratava de plantar as informações, a oposição tratava de espalhar a lenda.
Ah, certamente esse jornalista assistiu "O Homem Que Matou o Fascínora", e deve ter tomado um choque quando ouviu a célebre frase final, da boca de - logo quem? - um editor de jornal.
Peguei o controle remoto da TV e desliguei, pensando: " -Poxa vida. Às vezes um filme pode influenciar toda uma vida... mesmo que não seja o filme em si, mas apenas uma pequena frase..." E foi justamente esse o caso. O fato do jornalista nada tem a ver com o genial filme de John Ford, mas há uma relação entre eles, há algo que une a película de 1962 ao futriqueiro de 2006: tanto para o editor do tal jornal do filme quanto para esse repórter (e certamente, pra muita gente, inclusive aqui no Brasil), há somente uma verdade: When the legend becomes fact, print the legend.
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Bem, é isso. Um abraço a todos e até breve!
O Editor, ouvindo "I Just Called To Say I Love You", de Stevie Wonder.